Ritual do Cacau: pausa e presença - um encontro com o coração

Um relato sensível sobre minha experiência com o ritual do cacau no Manawa. Uma vivência de conexão, cura e espiritualidade, onde o cacau deixou de ser apenas uma bebida e se tornou um canal de presença, abundância e amor em movimento. Uma pausa para olhar para dentro, cultivar autocuidado e abraçar um momento de transição

Simone Oliveira Matsuzaka

10/1/20252 min read

Cacau: da semente ancestral ao coração presente

Foi no Manawa que aprendi sobre o Cacau — essa fruta que nasce em um cinturão de 30° acima e abaixo da Linha do Equador, originária das regiões tropicais, especialmente da Amazônia. Com o tempo, se espalhou pelo mundo através dos povos da Meso-América e, mais tarde, pela colonização. Hoje está no México, no Peru, na Colômbia, no Brasil — especialmente na Bahia, que se tornou polo de produção.

Mas muito antes de virar chocolate, o cacau já era sagrado. Os povos maias e astecas o usavam em rituais e até como moeda de troca. Uma semente pagava impostos, comprava mercadorias, celebrava casamentos. Mais do que valor material, ela trazia uma simbologia profunda: abundância, fluxo, movimento. Afinal, como tudo que é orgânico, a semente é imperecível — dura no máximo três anos. O cacau já nos ensinava que a vida é sobre doar, receber e renovar.

No corpo, o cacau é um ativador natural de bem-estar: rico em triptofano, precursor da serotonina, libera neurotransmissores que elevam o humor, dão prazer, disposição e sensação de realização. É chamado de “medicina do coração”, não apenas pela circulação que estimula, mas pela forma como abre espaço para conexão e presença.

No último 16 de setembro, vivi um ritual só para mulheres, na Casa Akueran, em celebração ao solstício da primavera. Cercada de 20 mulheres, entre cantos xamânicos e silêncio, consagrei o cacau e senti a força simbólica dessa transição: do inverno que pede recolhimento para a primavera que convida ao florescimento.

Entre cantos, silêncio e partilhas, senti meu corpo se abrir para uma leveza que venho encontrando nesse processo de pausa, autocuidado, olhar interno e transição. Foi um momento de acolhimento, cura e verdade.

Desde que deixei o mercado corporativo, após tantas dores — burnout, assédios, injustiças — tenho trilhado um caminho de limpeza e reconstrução. O cacau, nesse dia, foi um aliado amoroso, que abriu meu coração para sentir leveza novamente.

Minha gratidão especial às meninas do Manawa, que conduziram essa experiência de forma tão encantadora, criando um espaço de entrega e beleza, onde cada mulher pôde florescer ao seu tempo.

Hoje, para mim, o cacau não é só bebida. É canal. É presença. É lembrança de que a vida é movimento, abundância e amor.