A Neurociência do Propósito: Como o Cérebro se Reinventa aos 40+

Texto original também no Substack da In:Potência XL+

Simone Oliveira Matsuzaka

9/3/20253 min read

Tem gente que acha que depois dos 40 o cérebro entra em modo economia de energia. Spoiler: ele entra é no modo "atualização de sistema". A neurociência mostra que nosso cérebro é altamente plástico, mesmo na meia-idade. Não estamos programadas para estagnar, mas para recalibrar.

Falo com propriedade: sou estudante de pós-graduação em Neurociências e Comportamento Humano, mulher de 48 anos, menopausada, mas com pique para trabalhar, criar, pensar — mesmo lidando com sintomas fisiológicos, emocionais e psicológicos que são, sim, desafiadores. Mas não deixamos de produzir por causa disso. Produzimos de forma diferente — com mais foco, estratégia e, muitas vezes, mais sabedoria. E tão desafiadores quanto esses sintomas são os da sociedade e do mercado corporativo, que ainda insiste em estigmatizar mulheres nessa faixa etária.

Sim, a menopausa traz alterações hormonais que impactam o cérebro — incluindo uma redução temporária na massa encefálica em certas regiões. Mas isso não é o fim da linha. A ciência também mostra que esse quadro pode se estabilizar e até se reverter com estímulos certos: atividade física, alimentação adequada, sono de qualidade e, principalmente, engajamento mental e emocional. Ou seja, apesar das perdas, o cérebro continua com imensa capacidade de adaptação e crescimento. A chave é continuar nutrindo conexões — internas e externas.

Estudos de neuroplasticidade revelam que, com a experiência acumulada e maior capacidade de tomada de decisão emocional, o cérebro aos 40+ está mais preparado para encontrar e construir um novo propósito. Isso explica por que tantas mulheres se reinventam nessa fase: mudam de carreira, iniciam um negócio, mergulham em projetos com significado real. Não é crise. É expansão.

O Propósito Não é um Destino, é uma Jornada: Pequenas Mudanças, Grandes Impactos

Buscar um novo propósito não exige mudar para o Himalaia nem virar monja budista (mas se quiser, vai com tudo!). Muitas vezes, ele está em pequenas ações: dizer mais "não" para os outros e mais "sim" para você, buscar o tão difícil autoconhecimento (falaremos sobre isso em outra Substack), retomar um hobby, ajudar em uma causa, assumir uma vontade antiga. Pequenas escolhas com consistência moldam grandes transformações. O tal do "efeito composto".

A chave está em prestar atenção ao que te energiza. O que te faz perder a noção do tempo? O que te emociona de verdade? O propósito mora nesses detalhes. Às vezes, ele não chega com fogos de artifício, mas com um sussurro: "vai por aqui".

Descubra seu Poder e Potencial Após os 40

A maturidade não tira potencial de ninguém. Ao contrário: tira os filtros, os "tem que", os "e se". Com mais vivência, você aprende a separar o que é essencial do que é ruído. E isso te coloca em um lugar de mais autonomia e liberdade para agir.

Mulheres acima dos 40 têm um arsenal poderoso: conexões construídas, repertório emocional, visão sistêmica e, muitas vezes, uma paciência afiada. Tudo isso vira diferencial competitivo quando alinhado a um propósito claro.

Sim, também é uma fase em que vivemos uma certa complexidade: lideramos projetos, enfrentamos as dores e delícias da menopausa, e convivemos com profissionais de diferentes gerações — cada uma com seus talentos, ritmos e desafios. Essa diversidade etária pode ser uma força poderosa quando valorizada com inteligência e empatia.

Aproveite o Potencial Inexplorado das Profissionais Maduras

Organizações ainda subestimam o valor das mulheres maduras. E aqui vai um convite à reflexão: por que não considerar uma mulher 40+ para uma nova vaga de trabalho, em vez de apostar automaticamente em alguém da Geração Z — que, apesar da energia e da fluência digital, muitas vezes ainda está em fase de adaptação à realidade prática e emocional do mercado?

Mulheres 40+ têm vivência, jogo de cintura, foco, capacidade de entrega e uma bagagem que permite lidar com a pressão sem sucumbir a ela — e, mais importante, com consciência crítica sobre os excessos do modelo atual de produtividade extrema. Grande parte dessas mulheres estão preparadas para atuar com excelência no mercado, inclusive em cargos de liderança. Claro, ainda existem exceções: mulheres que puxam tapete, que lideram com insegurança ou que reproduzem padrões tóxicos. Mas sejamos justas — isso tem mais a ver com caráter do que com idade ou preparo.— e, mais importante, com consciência crítica sobre os excessos do modelo atual de produtividade extrema. Sabem resolver conflitos, entendem de gente, têm bom senso (sim, é raro) e já aprenderam que brilhar não é ofuscar os outros.

Se você é uma profissional 40+, saiba: você não está atrasada, você está no momento exato. Seu valor não depende do algoritmo, mas da bagagem que carrega. E isso ninguém pode copiar.